domingo, 1 de março de 2009

Aquecimento global: verdade ou mentira?

“Ciência climática vodu, sem teoria nem comprovação experimental” – é como o ex-reitor da UnB, José Carlos de Almeida Azevedo, qualificou os estudos do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) sobre o aquecimento global, em um artigo para a Folha de S. Paulo do dia 25 de fevereiro, reproduzido no JC E-mail. Esses estudos são a principal fonte de conhecimento sobre o fenômeno, hoje.

No entanto, seus argumentos são estranhíssimos e simplesmente não parecem se referir ao que faz o IPCC. Ele começa o artigo dizendo que o Painel não previu coisas como neve no Oriente Médio, na Grécia e no deserto dos Estados Unidos, ocorridas em 2008 e 2009.

Ora, isso não tem nada a ver com o que o IPCC faz. O trabalho do IPCC não é fazer previsões locais e para futuro imediato desse tipo, como se fosse o “homem do tempo” na TV. É fazer projeções de médio e longo prazos (usualmente cem anos) sobre características globais do clima, como variação da temperatura e do nível dos oceanos. E são várias projeções, dependendo do modelo e do cenário que se usa. Modelos referem-se a diferentes teorias sobre funcionamento do clima e cenários são hipóteses sobre a evolução futura das emissões de CO2.


Confusão com escalas de tempo

Em seguida, Azevedo diz que “satélites e sondas meteorológicos também comprovam que, nos últimos 13 anos, a temperatura ficou estável nos dez primeiros e caiu nos três últimos.” Ora, como dito acima, o IPCC faz previsões de médio e longo prazo. O importante é se há uma tendência de aquecimento em longo prazo (décadas), e não se a temperatura caiu durante um ou dois anos. A temperatura não sobe o tempo todo, há variações, pois ela depende de inúmeros fatores. É como um gráfico de subida da inflação ou da bolsa: há sobes e desces momentâneos, mas há uma tendência geral.

Depois dessa confusão entre os prazos com que o IPCC lida e os prazos curtos de alguns anos, o autor vai ao extremo oposto e diz que o aquecimento e a subida do nível dos mares acontece desde há uns 20 mil anos, desde o fim da última Era Glacial. É verdade, mas, de novo, há uma confusão sobre a escala de tempo. Os prazos das projeções do IPCC não são de dezenas de milhares de anos, são de coisa de um século. O que o IPCC diz é que houve uma inflexão, uma forte aceleração, no aumento da temperatura que já vinha acontecendo em média há milhares de anos, e associa essa inflexão à ação humana.


Por que teste indireto se há testes diretos?

Em seguida, o ex-reitor pergunta-se “que modelos climáticos os ‘videntes’ do IPCC processam nos seus computadores”, se “não existe teoria do clima”. Como assim, não existe teoria do clima? Como então se faz as previsões climáticas para os próximos dias que lemos nos jornais? E os modelos, são detalhadamente explicados nos relatórios do IPCC e nas fontes que cita, para quem quiser ver. E, se há modelos, há teoria. Modelos baseiam-se em teorias.

Azevedo apóia-se em alguns estudos. Cita um de Koutsoyiannis e outros autores, de 2008, que, segundo ele, confirma que "o desempenho dos modelos é fraco; em escala de 30 anos (...) as projeções não são confiáveis e o argumento comum de que o seu desempenho é melhor em larga escala não tem fundamento". Na introdução do seu trabalho, Koutsoyannis diz que chegou a essa conclusão testando os modelos que o IPCC usa: aplicou-os ao passado ao invés de ao futuro e verificando se eles conseguem se aproximar razoavelmente dos registros climáticos dos últimos 100 anos que já existem. A conclusão foi negativa. O estudo está aqui.

É uma proposta interessante, mas seria mais interessante ainda se Azevedo tivesse citado testes mais diretos, como observar se as previsões que o IPCC fez em 1990 se confirmaram. Afinal, já se passaram 18 anos e isso já é possível de ser feito. Outra vantagem de um teste direto como esse é que ele estaria baseado não em simulações computacionais feitas por um único grupo de cientistas (Koytsoyiannis e os co-autores do artigo, que fizeram as projeções para trás), mas pelo IPCC como um todo, que tem cerca de dois mil pesquisadores de diversas instituições espalhadas por vários países.

E há pesquisas que fazem isso e que têm conclusões opostas às de Koutsoyiannis. Um exemplo. Em fevereiro de 2007, um artigo publicado na Science pelo grupo de Stefan Rahmstorf mostrou que, entre 1990 e 2006, mediu-se um acréscimo de 0,33 graus Celsius na temperatura média dos oceanos. Isto estava dentro do conjunto de projeções do IPCC. Estava, porém, perto das mais pessimistas. Já a elevação do nível dos mares, segundo o mesmo artigo, foi de 3,3 mm/ano. Aí houve discrepância com o IPCC: este previa um máximo de 2 mm/ano. Porém, a discrepância, ao invés de contradizer a idéia da elevação do nível dos mares, a aprofunda, pois o aumento medido foi maior que o projetado pelo Painel.


Palavra x contexto

Continuando, Azevedo tenta contrapor duas afirmações aparentemente contraditórias de um dos meteorologistas do IPCC, K. Trenberth. Em 2007, ele disse que “não há previsões climáticas feitas pelo IPCC. E nunca houve.” Ao mesmo tempo, os “xamãs” do IPCC dizem que há consenso científico sobre a influência do CO2 no clima”.

A primeira frase, a de Trenberth, foi localizada pelo jornalista Marcelo Leite, que mostrou a fonte em um artigo seu na Folha de S. Paulo de hoje (01/03), reproduzido no site do MRE. Vem de um pequeno texto de Trenberth num blog da revista britânica Nature. E a frase foi posta lá simplesmente para mostrar a diferença entre uma “previsão” e o que o IPCC faz. Isso é explicado logo após a frase de Trenberth, quando ele continua: “O IPCC, ao contrário, divulga projeções do clima futuro do tipo ‘o que aconteceria se’, que correspondem a certos cenários de emissão [de CO2]”. É um sentido bem diferente do que transparece pelo contexto do artigo de Azevedo. Uma das diferenças entre projeção e previsão é que as projeções dependem do modelo e do cenário. As projeções para elevação do nível dos mares até 2100, por exemplo, são seis e variam de 40 cm, no cenário mais “otimista”, a 60 cm, no cenário mais pessimista.

Além disso, cada tipo de projeção (como a elevação do nível dos mares) e de associação causal (como a associação da ação humana à elevação do nível do CO2) está associada com faixas de probabilidades. Os relatórios do IPCC estão repletos de expressões referentes a essas probabilidades, cujos significados precisos são explicados no início dos documentos. São as seguintes: “virtualmente certo” (probabilidade maior que 99%), “extremamente provável” (entre 95% e 99%), "muito provável" (entre 90% e 95%), “provável” (de 66% a 90%), “mais provável que improvável” (de 50% a 66%), “aproximadamente tão provável quanto improvável” (de 33% a 50%), “improvável” (de 10% a 33%), “extremamente improvável” (entre 1% e 10%) e “excepcionalmente improvável” (menos que 1%).

O próprio IPCC dizia, até 2007, que a probabilidade de a ação humana ser responsável pelo aumento das emissões de CO2 estava entre 67% e 90% (“provável”). Até então, a difusão de que havia uma "certeza total" sobre isso era um problema da relação entre academia e imprensa. No relatório de 2007, porém, a probabilidade para isso subiu para entre 90% e 95% (“muito provável”). A razão foi a adição das pesquisas dos 6 anos anteriores na compilação. Isto não é exatamente o comportamento de um “xamã”.

Uma descrição mais detalhada sobre como funcionam os estudos do IPCC, incluindo a diferença entre modelos e cenários, está em outro texto deste blog.

6 comentários:

  1. BOA NOITE,

    NA RÁDIO CBN ESCUTEI UMA ENTREVISTA COM O ERÓDOTO E NÀO ME LEMBRO O NOME DO ESPECIALISTA (INFELIZMENTE), SOBRE A QUESTÃO AQUECIMENTO GLOBAL. O ENTREVISTADO DISSE QUE A AÇÃO DO HOMEM É DE 1%. VERDADE OU MENTIRA?

    ABRAÇO,

    CLAUDIO PIMENTA, DE CONTAGEM - MG

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  2. achei muito interessante

    Lucca e João Victor

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  3. O IPCC diz que existe 90% de probabilidade do homem ser o causador do aquecimento global? Isto não prova nada. O fluminense tinha 98% de probabilidade de cair para a segunda divisão em 2009 e não caiu. "A Matemática não mente, mente quem faz mau uso dela"(Einstein).
    No passado usaram as "religiões" e as "ideologias" para controlar e reprimir os homens. Agoram usam a "ciência" para isso.

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  4. Não creio em aquecimento global a níveis veiculados hoje.Inclusive tem muita gente se beneficiando deste tema teoricamente muito duvidoso.Porém isso não quer dizer que estamos sem problemas em nosso clima,em nosso meio ambiente.
    Em tempo:Ao sr Ezequias gostaria que ele soubesse a Verdade sobre a Igreja,sobre"as religiões"certamente mudaria sua inquisição sobre ela.O mundo estaria muito melhor se a religiões" controlassem,direcionasse os homens.
    Ronald P Langbeck

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  5. O panteão de cientistas do IPCC ganha dinheiro para divulgar informações de pouco valor cientifíco. Até uma ameba percebe as mentiras...

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  6. Isso parece um movimento global para desviar atenção. na década de 90 existia um asteroide que colididria com a terra. Havia planos de construir foguetes com bombas H para destruir o tal asteroide que, para minha surpresa desapareceu. ninguém deu mais noticias sobre ele. Seria possível ser verdade que um asteroide capaz de destruir nosso planeta tenha desaparecido magicamente? Ou ele nunca existiu? Tenho certeza que nunca existiu- foi mais um motivo para os EUA invadir países árabes!!!

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