sexta-feira, 25 de março de 2011

O estranho mundo quântico captado em vídeo

É sabido que as coisas no mundo microscópio se comportam de modo muito diferente do que no macro - é por isso que foi necessária uma física nova para o extremamente pequeno, a física quântica. Este vídeo no Youtube, cujo link encontrei ontem no site de um professor da Unicamp, mostra isso de maneira dramática.

Ele apresenta simplesmente uma simulação por computador de duas partículas subatômicas se chocando e depois quicando nas paredes de uma caixa. Poderiam ser dois elétrons. Talvez você estranhe que eles apareçam como manchas coloridas na figura ao lado. É porque essas manchas não indicam as partículas em si, mas apenas as probabilidades de elas serem encontradas naquelas regiões coloridas (a mecânica quântica só lida com probabilidades).

Bom, em princípio, isso seria algo inteiramente análogo a duas bolas de bilhar colidindo e depois batendo vezes seguidas nas beiradas da mesa. Mas... veja só o que acontece quando as partículas colidem:


Aparecem franjas entre elas. Como isso é possível? Na verdade, é uma manifestação da "dualidade onda-partícula" - o que chamamos "partícula", na verdade, comporta-se como onda. As duas manchas coloridas no início são dois "pulsos" de onda propagando-se pelo espaço. Sim, as "manchas que indicam probabilidades" representam também as próprias ondas. Essas "entidades" podem também se comportar como corpúsculos, dependendo da situação, mas aqui sobressai o seu aspecto ondulatório (afinal, são ondas ou corpúsculos? Nem um nem outro; são alguma outra coisa - que não sabemos o que é - e que se comportam ora como onda, ora como corpúsculo).

Acontece que ondas são capazes de interferir uma com a ontra, somando-se ou subtraindo-se. Na figura acima, vemos as ondas das duas partículas interferindo-se mutuamente.

Agora, veja o que acontece quando as partículas batem nas paredes da caixa:


Aparecem também as franjas de interferência! Mas agora as partículas não estão interferindo uma com a outra - elas estão em cantos opostos da caixa. Suas ondas estão interferindo com elas mesmas - à medida que uma parte reflete na parede e volta, ela interfere com a outra parte, que continua se aproximando.

O que se segue no vídeo é uma sucessão de diferentes padrões, como este abaixo:


Agora, não é possível distinguir as duas partículas, pois as suas ondas se misturaram. As franjas de interferencias ocuparam todo o interior da caixa. Aí desembocamos em outra característica da mecânica quântica, a indistinguibilidade. Duas partículas idênticas, como dois elétrons, são indistinguíveis num sentido completo, ontológico: não é sequer possível "seguir" a trajetória de um deles, como fazemos com formiguinhas caminhando em fila para ter certeza de que estamos seguindo sempre a mesma. Isso acaba tendo efeitos mensuráveis (altera o formato das franjas de interferência, as energias dos elétrons nos átomos etc.). Elas são indistinguíveis mesmo no início do vídeo, quando aparecem duas manchas bem distintas - lembrando que as manchas só indicam as probabilidades, elas não dizem que partícula se manifestará em cada mancha quando formos observá-las.

Mas isso não é o fim da história. As regiões bem delimitadas ressurgem e se dissovem novamente, como abaixo, alternando-se com os padrões:


Aparecem acima quatro regiões, como se fossem agora quatro partículas. Em outras partes do vídeo, aparecem 8 regiões e, em outras, 12! Significa isso que as partículas se dividiram? Não: lembremos que o que essas manchas representam é a probabilidade de se encontrar uma partícula em cada região do espaço. As partes vermelhas são os locais mais prováveis. Então continuam sendo duas partículas, só que agora cada uma pode ser encontrada em alguma das quatro regiões distintas do espaço. Observe que parecem ser quatro metades, como se fossem duas divididas entre dois lados opostos da caixa.

Agora, veja que desenho curioso aparece um pouco mais adiante:


Aparecem de novo quatro regiões concentradas, mas com listas de interferência!

A partir daí, a evolução faz todo o caminho de volta até as duas manchas iniciais aparecerem novamente.

É por essas e outras que a mecância quântica me parece tão fascinante: é um mundo inteiramente diferente, que funciona com regras diferentes, totalmente diversas do que diz a intuição. Os físicos têm que construir novas intuições à medida que avançam nos seus estudos.

Obs.: Um resumo deste artigo aparece no blog Ciências e Adjacências, com mais três vídeos semelhantes no final.

domingo, 13 de março de 2011

Aprendendo com falsos fósseis

Uma interessante dica para professores e estudantes de paleontologia pode ser a foto ao lado, que apareceu no Earth Science Picture of the Day do último dia 10. Foi tirada pelo o físico e astrônomo amador Mário Sérgio Teixeira de Freitas, de Curitiba. Parece a marca de um fóssil, talvez de alguns milhões de anos, não é? Mas é apenas o "registro" de um raminho de árvore com um par de folhas que caiu no cimento fresco em uma calçada de Brasília.

A ideia do Mário, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), é que o processo de formação desse baixo-relevo tem algumas semelhanças com o da constituição de fósseis reais e por isso pode servir de metáfora para ajudar a compreensão dos fenômenos naturais por detrás dos mesmos. Ou seja, entender um processo natural de pelo menos 10 mil anos, praticamente inacessível à percepção humana, por meio de um análogo enolvendo escalas de tempo muito menores e perfeitamente assimiláveis. Ora, as folhas, levadas pelo vento, simplesmente "pousaram" no cimento Portland fresco, que rapidamente secou, perpetuando suas marcas; depois, provavelmente, as intempéries destruíram seus tecidos, deixando apenas a impressão no chão. O resultado foi um registro suficientemente detalhado para que se possa identificar sua origem, por meio da observação da forma das nervuras: trata-se de folhas de goiabeira!

De brinde, a analogia também reforça a necessidade de se distinguir os inúmeros fósseis falsos dos reais, um problema sério tanto para paleontólogos profissionais como para os amantes desses fascinantes registros de eras arcanas.